Fabricantes de equipamentos eletromédicos falam sobre as medidas adotadas para atenuar os impactos da crise e quais suas expectativas pós-pandemia
Fabricantes brasileiros de equipamentos eletromédicos e estéticos, que apostaram em resultados acima da média para 2020, viram as expectativas frustradas com a crise causada pela pandemia decorrente do novo coronavírus. Depois de adotarem rapidamente medidas para se adequar à situação, eles agora mantêm o foco no atendimento às novas demandas e voltam a olhar com otimismo para o mercado pós-pandemia, que aos poucos retoma as atividades.
Com sede em Petrópolis (RJ) e fábrica em Votorantim (SP), a Adoxy vivia seu momento de maior crescimento até a chegada da crise pandêmica. “Nosso crescimento era não apenas financeiro, mas de equipe e em tudo. Implantamos nossa própria indústria em Votorantim, investimos pesado em estrutura e tecnologias, nos tornando uma das poucas indústrias 4.0 do segmento”, conta Thiago Gonzalez, diretor executivo da empresa.
Segundo ele, a previsão de crescimento para 2020 era de 30%, o que seria propiciado pelo aumento do portfólio e pelo início das exportações para outros continentes no último trimestre deste ano. “Esperávamos para 2022 um crescimento ainda maior que em 2021”, revela. O diretor executivo da Adoxy diz que a pandemia freou consideravelmente a projeção de crescimento do faturamento e atrasou o início das exportações que estavam projetadas para começar em setembro próximo e só devem acontecer a partir de novembro. “Tivemos também que adiar alguns lançamentos, perdendo o timing de alguns deles”, completa.
A despeito do impacto da crise, a Adoxy optou por preservar seu quadro funcional e não realizou demissões até agora. “Não tivemos nenhum desligamento, apenas colocamos cerca de 40% da equipe em suspensão temporária de contrato”, explica Thiago.. “Acreditamos que não serão necessárias demissões, já que costumamos trabalhar com equipes enxutas e temos bastante automatização de processos”, destaca. “Deixo claro que seguramos as demissões na nossa empresa por termos profunda empatia e gratidão por nossa equipe, mas a situação da economia aponta para uma necessidade de redução de, pelo menos, 20% do nosso quadro de colaboradores”, admite.
As medidas da Adoxy para enfrentar os impactos da pandemia sobre os negócios e se prepararem para o pós-pandemia foram várias. “Renegociamos pagamentos com quase todos os nossos fornecedores e credores, uma vez que nossa inadimplência aumentou muito também. Aproveitamos o período para treinarmos mais nossa equipe. Investimos em mais automatização de processos, por meio de inteligência artificial e outros sistemas. Colocamos praticamente a empresa toda trabalhando em home office”, enumera o diretor executivo, lembrando que a empresa também está adotando medidas de segurança e saúde de acordo com as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Diante de clientes inseguros e temerosos em relação ao futuro, Thiago conta que a Adoxy decidiu produzir conteúdos como vídeos de treinamento, por exemplo, “para ajudar as pessoas a pensarem mais positivo, a planejarem melhor seu negócio, a venderem e divulgarem melhor sua empresa”.
O diretor executivo da Adoxy destaca que muitos municípios brasileiros não adotaram a quarentena ou tiveram um isolamento menos restritivo, o que possibilitou que a empresa continuasse a vender, mesmo em menor quantidade. “Nossa expectativa é de retomada rápida do nosso ritmo de crescimento, não por causa da economia, que está destroçada em nível, mas porque teremos um novo planejamento de portfólio e de redução de custos na empresa”, justifica.
FOCO NOS LANÇAMENTOS PÓS-PANDEMIA
Na HTM Eletrônica, fabricante de equipamentos eletromédicos sediada em Amparo (SP), o cronograma de relançamentos e lançamentos de produtos foi mantido para 2020, a despeito da crise provocada pelo coronavírus. “O nosso mercado é sedento por novidades, por isso a estratégia da empresa foi manter os investimentos em projetos como estava definido antes da pandemia”, relata Paulo Gustavo de Siqueira Lopes, diretor de desenvolvimento empresarial da HTM.
Ele conta que a expectativa era bastante positiva para 2020, com crescimento acima da média dos últimos anos, baseado, inclusive, nos investimentos realizados em 2019. “Estávamos dentro de nossas metas até março, quando tivemos que rever nossos planos”, recorda.
Com o início da quarentena, lembra Paulo, houve uma desaceleração em cascata, começando pela impossibilidade de trabalho das clínicas. “as clínicas, por sua vez, deixaram de investir. Nossa rede de distribuição também reduziu as atividades, com vendas apenas on-line, e consequentemente, houve uma queda nos pedidos de compra à empresa. Isso fez com que a indústria readequasse todo o orçamento para 2020, impactando numa nova definição estratégica”, afirma.
A empresa, segundo o diretor, fez a readequação orçamentária, baseada na nova realidade, o que, para ele, é muito importante para não gerar compromissos financeiros excedentes. “Na área comercial e marketing, recursos que, antes estavam previstos para eventos com públicos, foram realocados e focados em campanhas para impulsionar as vendas com outros apelos. E o mais importante: a empresa não desacelerou os projetos de novos produtos para estarmos preparados no momento da retomada com muitas novidades para o mercado”, diz.