Condição que atinge homens e mulheres foi tema central no 35º Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, realizado em abril, em Salvador. Especialistas revelam avanços em diagnóstico e tratamento.
A queda de cabelo excessiva é uma realidade vivida por milhões de brasileiros. Entre os diversos tipos de alopecia, a androgenética é uma das mais comuns — como revelou recentemente a apresentadora Xuxa Meneghel, de 61 anos. Ela compartilhou sua experiência com a calvície hereditária, que a levou a raspar a cabeça e recorrer a um transplante capilar.
Segundo especialistas, a alopecia vai além da estética: ela impacta diretamente a autoestima, o bem-estar emocional e a identidade, principalmente das mulheres a partir dos 40 anos. No Brasil, estima-se que mais de 20 milhões de mulheres sofram com o problema, muitas vezes escondido por perucas ou acessórios.
O que é alopecia?
A alopecia é uma condição que provoca a queda parcial ou total dos fios de cabelo e pode ter causas genéticas, hormonais, autoimunes ou até relacionadas ao estilo de vida. Durante o congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), em abril passado, o tema foi amplamente debatido por médicos e pesquisadores.
Tipos mais comuns de alopecia
A dermatologista norte-americana Susan Taylor, referência global no cuidado da pele e cabelos da população negra, destacou os principais tipos:
- Alopecia androgenética: hereditária, afeta homens e mulheres, com afinamento progressivo dos fios.
- Alopecia areata: autoimune, provoca quedas em falhas circulares no couro cabeludo ou corpo.
- Alopecia cicatricial: perda definitiva causada por inflamações severas ou doenças que danificam os folículos capilares.
- Alopecia por tração: associada a penteados que tracionam os fios, comum entre pessoas negras devido a tranças e rabos de cavalo apertados.
Taylor ressaltou a importância de identificar precocemente os sintomas — como queda em tufos, falhas localizadas, inflamações e sensibilidade no couro cabeludo — para iniciar o tratamento adequado e evitar danos permanentes.
Sintomas da alopecia: fique atento
- Perda de cabelo em tufos ou áreas específicas
- Afinamento visível dos fios
- Coceira, inflamações ou cicatrizes no couro cabeludo
- Sensibilidade ou dor local
Tratamentos modernos para a queda de cabelo
O tratamento para alopecia depende do tipo e da gravidade da condição. Entre as abordagens mais inovadoras apresentadas no congresso, destacam-se:
- Medicamentos tópicos e orais que estimulam o crescimento capilar
- Injeções de corticoide (casos de alopecia areata)
- Laser capilar de baixa intensidade
- Microagulhamento com fatores de crescimento
- Transplante capilar com técnicas avançadas como a FUE (Follicular Unit Extraction)
- Terapia regenerativa com PRP (plasma rico em plaquetas)
A cirurgiã capilar Leila Bloch enfatizou que a técnica FUE permite uma recuperação mais rápida, com maior densidade de fios e menos danos. Também é possível realizar transplantes de sobrancelhas, cada vez mais procurados por pessoas com falhas ou ausência total de pelos na região.
Cuidado com penteados que causam tração
Um dos alertas dados por especialistas é para evitar penteados que exigem muita tração dos fios. “Se doeu ao fazer uma trança, é sinal de que está havendo trauma capilar”, afirma Leila Bloch. O uso frequente de tranças apertadas pode levar à alopecia de tração, especialmente na área frontal da cabeça.
Covid-19 e alopecia: há relação?
O médico Leonardo Bianchini, especialista em estética facial e tricologia, revelou um dado pouco conhecido: a Covid-19 pode desencadear diferentes formas de alopecia. Segundo ele, o vírus SARS-CoV-2 pode inflamar estruturas do folículo piloso, causando alopecia areata ou até tipos cicatriciais, ao atingir células-tronco essenciais para o crescimento dos cabelos.
Dermatologia mais inclusiva e consciente
Com mais de 4.000 participantes, o congresso realizado em Salvador também trouxe à tona a necessidade de uma dermatologia mais diversa e inclusiva. O tema central foi “Pele Étnica e Cirurgia Dermatológica”, destacando a importância de compreender as especificidades da pele negra e outros tons de pele presentes na população brasileira.
“Cabelo é mais do que estética. É cultura, identidade e autoestima”, destaca o dermatologista Paulo Barbosa, presidente do congresso. Para ele, os avanços da ciência devem caminhar junto com uma medicina mais humanizada. “Há tratamentos, há ciência e, acima de tudo, há esperança”, conclui.