Empresária começou com R$ 500 e mesmo com a pandemia e um diagnóstico de câncer de mama, viu faturamento da clínica aumentar em 200%
Foram mais de 10 anos dedicados a clínicas de estética em São Paulo e a percepção da ausência de profissionais especializados, assim como de técnicas com foco na pele negra, foi o ponta pé inicial para a trajetória de sucesso da empresária Zarah Flor. Formada em Estética e Cosmetologia, ela é responsável pelo desenvolvimento de uma técnica de depilação a laser para peles negras e proprietária de duas unidades da clínica que leva o seu nome: uma em Bela Vista, na capital paulista, e outra em Copacabana, no Rio de Janeiro.
A Zarah Flor Estética e Laser começou com R$ 500, em 2016, e hoje é uma referencia em depilação para fototipo alto. Além disso, todos os seus colaboradores são negros.
Olhar estratégico para um nicho potencial
O por quê? Ao longo de sua trajetória, ela afirma que dá para contar nos dedos os profissionais negros atuando em clínicas ou dentro dos consultórios. Assim como palestrantes negros em eventos com foco em assuntos estéticos e de saúde.
E foi justamente esse olhar voltado para as pessoas negras que fez do seu negócio destaque no mercado. A prova da força da diversidade, da inovação e da inclusão também no mundo empresarial.
Trajetória
A decisão de mudar o rumo de sua vida foi tomada em 2016. “São mais de 17 anos dedicado a estética e ao longo da minha carreira, percebi que os profissionais não sabem tratar e cuidar da pele negra. Isto porque ela tem mais concentração de melanina, a proteína que dá a cor e protege contra os raios solares”, explica Zarah Flor. “Consequentemente, a pele negra pode ficar com manchas ou até mesmo queimaduras quando o procedimento é realizado de forma incorreta”, acrescenta.
A trajetória começou em uma sala com uma maca. “Sempre atendi em clínicas e depois em domicílio. Acredito que o diferencial do meu negócio, no início, ficou por conta do meu marketing, já que passei a divulgar o serviço de depilação a laser com mulheres negras. Quantas publicidades de estética você vê com mulheres negras?”, questiona.
Para Zarah, este público se sentiu representado. “Queria fazer a diferença e ter a chance de mostrar a estas mulheres o quanto são bonitas e podem ficar ainda mais”.
Dificuldades
Apesar do sucesso atual, Zarah enfrentou algumas dificuldades. Por três anos trabalhou sozinha. A contratação da primeira colaboradora ocorreu em 2019, quando engravidou.
Mas os desafios não pararam por aí. Em 2020, pouco tempo depois de se tornar mãe, no dia em que foi assinar a locação de um novo espaço – mais amplo – no qual abriria sua primeira clínica, a esteticista recebeu o diagnóstico de câncer de mama em grau avançado.
“Crescer, mudar era o meu sonho. E em outubro de 2020, quando tudo isso ocorreu, meu primeiro pensamento foi desistir. Isto porque pensei que teria pouco tempo de vida e então, queria curtir minha família e viver perto deles”, relembra.
Mas o marido de Zarah, Anderson Rezende, não deixou a esposa desistir do seu sonho. “Ele sempre esteve ao meu lado e segurou as pontas. E para investir na clínica, vendemos o carro e os equipamentos de DJ dele. Frente a tudo isso, ele se transformou em meu sócio”, conta Zarah.
A empreendedora passou por cirurgia e enfrentou um ano de tratamento, sem poder trabalhar. A contratação e administração da clínica ficou por conta do marido.
Ao se recuperar, retornou a rotina e aos estudos para aperfeiçoar os procedimentos a laser em peles negras. E mesmo diante a pandemia, ela conseguiu expandir os negócios ao abrir uma clínica em Copacabana, no Rio de Janeiro. Em cinco anos, o faturamento do empreendimento cresceu 200%.
Apesar do foco em peles negras, a clínica atende todos os públicos.
Técnica
O equipamento de depilação a laser emite um comprimento de onda específico em que o alvo é o pelo. O mecanismo é capaz de distinguir o que é pelo e o que é pele, ao contrário do procedimento convencional, no qual o laser é atraído pela melanina, que é o pigmento presente nos pelos e na pele, sem distinção entre um e outro.
“Eu não tinha dinheiro para investir, mas tinha muita vontade de construir um caminho de sucesso”, revela Zarah. “Além disso, no início era difícil encontrar material que não machucasse peles negras. Devido ao padrão na estética, geralmente tudo é testado em um mesmo tipo de pele, foi um trabalho árduo até encontrar um protocolo adequado”.
Na técnica desenvolvida pela empresária, o laser emite um feixe de luz que, quando disparado, é guiado mais profundamente na melanina do pelo sem se dispersar, distribuindo, assim, menos calor na superfície da pele. O foco seletivo causa a destruição do folículo piloso por conta do aquecimento das estruturas e torna-se confortável tanto para peles negras quanto para peles brancas.